EU, NÓS E O PAÇO
Lá atrás, eu via o Paço como uma
coisa velha, desmanchando-se fedorento entre formigas
e umidades! Uma coisa capenga por
cupins, morcegos e goteiras! Podre nas
suas madeiras, pálido nas suas tintas, violado nas suas janelas, invadido nas
suas portas, molhado no seu telhado.
Olhava o Paço até com pena, como se
fosse alguém qualquer necessitando ajuda, prendendo-me muito mais ao seu cheiro
de morte, do que ao algo de nobreza que poderia ter.
Naqueles tempos talvez ele tenha me
achado arrogante, sem paciência, sem muita esperança! Talvez tenha até pensado
que eu nunca tivesse lido Fernando Pessoa, falando sobre almas e o que vale a
pena!
Aí, aconteceu que juntamos
parceiros de outras lutas e resolvemos ajudá-lo! No que desse! Não sabíamos que na verdade estávamos
ajudando-nos a nós mesmos!
A magia do Paço foi nos
tocando, mansamente, conquistando nossos corações.
A cada tinta raspada,
reboco restaurado, a cada estranho anexo subtraído, a cada telha arrumada, moldava-se
o despertar de um espírito gigante encravado naquele prédio.
Foi fantástico
descobrir nele símbolos que sempre estiveram ali e não víamos,
transportando-nos do nosso imaginário de ruínas escuras para o palácio
perfumado dos nossos melhores sonhos. Sua verdade apareceu!
Talvez envergonhados
pelos sentimentos iniciais, procuramos lavar este pecado, atirando-nos com afinco
no objetivo do restauro da edificação. A
dedicação compensou o descaso inicial, ao ponto de confundirmo-nos por tempos,
pensando que o prédio era somente nosso.
Passou o tempo, e ele
voltou para a vida de uma forma tão intensa, que projetamo-lo como participante
do nosso futuro, de uma maneira ou outra. Não viveríamos mais sem ele!
Até que um dia, despertamos
para a realidade da obra concluída! E aí, sentimo-nos um pouco perdidos!
Havíamo-nos acostumado a cuidar dele, e talvez, sem que soubéssemos, ele a cuidar
de nós!
Então em meio a emoções
conflitantes, assistimos à chegada dos novos ocupantes do prédio, como naturalmente
tinha de ser! Eles chegaram de mansinho e logo o moldaram para a sua nova vida
de Museu!
Voluntários de uma
restauração concluída, restou-nos ir embora!
O Paço não precisava
mais de nós!
Hoje a doída saudade dele é compensada
quando o vejo, ainda que de longe.
Num sentimento meio louco, me parece
que ele sorri e me acena, convidando para entrar um pouco!
Desconfio que sentimos a mesma
saudade!
Arq. Osni Schroeder
Inauguração nesta quinta-feira,
dia 03 de agosto de 2017,
às 19 horas
dia 03 de agosto de 2017,
às 19 horas
Maravilhoso texto sobre o Paço. Refletiu com perfeição o que também senti e sinto. Ele não nos esquecerá, tampouco nós o esqueceremos; embora a vontade dos que se prendem à efemeridade.
ResponderExcluirOsni Schroeder que beleza ! Tenho muito orgulho de ter acompanhado este movimento nos últimos dois anos. Parabéns! O filho nasceu para a vida dele.
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