O
que podemos dizer quando recebemos a notícia da morte de alguém que foi capaz
de colocar inteiro dentro do seu peito o lugar onde viveu?
Carlos Eduardo
Dicklhuber Florence, em algum momento de sua passagem por esta vida, mexeu com nossas
emoções. Fosse empunhando o estetoscópio e auscultando os corações, fosse
vibrando sua voz por um Hospital de Caridade com maior efetividade e
excelência, fosse empregando sua inteligência, sabedoria e carisma em prol das
causas culturais, ou trazendo lirismo aos nossos domingos com suas criativas e
bem humoradas crônicas.
Perdê-lo foi como
experimentar a orfandade. Foi sentir o vazio. Foi pensar em Netuno e Nossa
Senhora sem o seu maior interlocutor, aquele que ouvia suas conversas sobre o
que viam do alto de seus postos.
Esta é a vida.
Não nos é dado o direito à eternidade. No entanto, a alguns é concedido o
beneplácito da memória. Carlos Eduardo Florence é um deles. Jamais esqueceremos
o seu jeito, inteligência, elegância e, sobretudo, o imenso amor que nutriu por
Cachoeira.
Eduardo
foi-se, mas nós continuaremos a lembrá-lo em cada esquina, nos sobrados, nas
janelas, nos sons de piano, nas feiras do livro, nas confrarias, nas caminhadas
pelos arredores do Château d’Eau, pedindo bênção à Nossa Senhora, vendo o Jacuí
engolir o sol.
Adeus, amigo.
Cachoeira nunca mais será a mesma. Só
nos resta agora imaginar teus diálogos com o Osni e o Armando sobre a nossa
bela que só ela!
No entardecer de 13 de dezembro de 2022, mais de 100 pessoas
prestigiaram o lançamento do livro “O Viajante Infiel” (editado pela família) e
a homenagem póstuma da Amicus a Osni Schroeder, no saguão da Casa de Cultura, decorado
por Léa Kämpf, com objetos pessoais do arquiteto.
A emoção tomou
conta dos presentes com a leitura de sua
coluna “A lanterna de Diógenes” e performance de Rosane Rösing, a interpretação
de músicas de Elvis Presley pelo pianista santa-mariense Miguel Zanotelli, os
depoimentos da presidente da Amicus, Dariely Gonçalves, das parceiras do Grupo
Ponte de Pedra Mirian Ritzel e Elizabeth Thomsen, do filho José Pedro Hentschke
Schroeder, da esposa Vera Hentschke Schroeder, do amigo Chulipa Möller e da
Secretária de Cultura, Clarisse Almeida.
Um vídeo trouxe homenagens de Auber Lopes de Almeida Filho e
Antônio Sarasá, amigos que não puderam comparecer, belas imagens da vida familiar, e da sua intensa atividade
profissional em prol da preservação do patrimônio material e imaterial de
Cachoeira:
Mirian Ritzel sintetizou nestas palavras:
“Osni Schroeder foi daqueles seres humanos especiais que veio ao mundo para deixar sua marca. Deixou-a no profissional que foi, com trajetória reconhecida individualmente e como representante de seus pares à frente de entidades como o CREA/CONFEA/Mútua; como presidente da Amicus, conselheiro e vice-presidente do Compahc, dentre outras atividades comunitárias.
Imprimiu-a como
cidadão, quando não se furtou de participar dos debates e das questões postas
na comunidade cachoeirense, fosse na condição de formador de opinião e, muito
especialmente, na defesa da nossa memória, quando se mostrou aguerrido
voluntário em ações de convencimento e recuperação do patrimônio histórico-cultural.
E foi, com certeza,
um dos grandes filhos desta terra pelo amor que a ela devotou, constituindo
aqui sua família com a esposa Vera e passando aos filhos Eduardo e José Pedro o
exemplo de edificação da sociedade que tem início na consolidação da vida familiar.
Suas ações em prol do próximo, muitas anônimas, redundaram em realizações que
mitigaram sofrimentos.
Osni Schroeder, ainda
que combatente em suas ideias, conquistou e fez muitos amigos. Seu tirocínio e
grande experiência no convívio em diferentes círculos fez dele um notável
observador e balizador de atitudes. A lanterna de Diógenes, trazida à reflexão
na crônica magistralmente lida por Rosane Rösing, cuja motivação para
rememorá-la surgiu do reencontro que Osni teve com o velho lampião que o guiava
nos tempos do escotismo, consegue trazer para cada um de nós a medida das
reflexões que o ser humano que ele foi fez ao longo de toda a sua vida,
questionando-se sobre ter consigo o que Diógenes procurava: ser um homem livre
em busca da verdade.
Sua verdade chegou
até nós e muito especialmente fomos tomados dela com sua partida inesperada.
Ficaram o legado, o exemplo, as realizações. Ficou a imagem do homem, do
companheiro de causa, do cidadão que teve o privilégio de “conversar” com o
passado, ouvindo-o e lutando por sua salvaguarda.
O Viajante Infiel,
sua obra póstuma, traz um pouco do que Osni vivenciou, transmutado numa ficção
que envolve o desaparecimento de uma peça sacra de imenso valor em um lugar na
Argentina e que foi escondida na sua, na nossa Cachoeira do Sul. Os leitores
ficarão surpresos com o enredo, o simbolismo e o desfecho.”
O livro “O Viajante Infiel”, com texto de Osni Schroeder e
ilustações de Jáder Corrêa, editado pela Farol 3 Editores, tem 129 páginas e estará
à venda na Livraria Nascente, Viveiro Cultural, Biblioteca e Museu Municipal
por 50 reais.
Jornal do Povo - 13 de dezembro de 2022
Video de 9 minutos, com imagens do lançamento do livro
O
Movimento pela Restauração da Estação da Ferreira, junto com a Prefeitura Municipal de
Cachoeira do Sul, Defesa Civil e 3º Batalhão de Engenharia de Combate, está
desde o início desta semana removendo as telhas e madeiras que ofereciam risco
de queda aos visitantes e à própria estrutura do prédio histórico.
Um
caminhãoMunck do Exército Brasileiro e um grupo de
militares (Cabos Paulo Müller e João Vítor Neves da Silva, soldados José
Guilherme Koehn e João Luís Macedo) sob a supervisão do Capitão Háteras
Freitas, do 3º BECmb, colaboraram de maneira fundamental no trabalho, visto que ele é feito em grande altura.
Aequipe da Defesa Civil (os agentes Raufer da
Silva Costa, José Antônio Terra de Oliveira Júnior, Acilon Brum Almansa Carlos
e Cristiano da Slva Garcia) é liderada por Edson Roberto das Neves Júnior que
tambémé responsável pelo isolamento do
local.
A
Secretaria Municipal do Meio Ambiente cedeu os funcionáriosCleverson Narciso Rech (que trabalhou no cesto
do guindaste articulado),Elci Oliveira
de Oliveira e Emerson Gilberto dos Santos Ferreira.
A Secretaria Municipal do Interior colaborou com a colocação de pedras no acesso ao lado leste da Estação, para garantir o transito dos caminhões.
A vice-prefeita Angela Schuh destacou duas servidoras para acompanhar a
retirada, medição e catalogação do material: a arquiteta urbanista Márcia Heck,
a engenheira civil e de segurança do trabalho, Franciela Gehrke e o estagiário
Lenin Reis, todos lotados na Secretaria Municipal de Educação.
José
Pedro Hentschke Schroeder, advogado e coordenador do Movimento pela Restauração
da Estação da Ferreira ao lado do irmão, o voluntário Eduardo Hentschke
Schroeder, estão acompanhando o trabalho permanentemente. Eles são filhos do
arquiteto Osni Schroeder, falecido em dezembro de 2020, quando era coordenador do mesmo movimento e que assina o projeto de
restauro do prédio.
Colaboradores
de Osni Schroeder desde a recuperação da Ponte de Pedra, a arquiteta Elizabeth
Thomsen e o fotógrafo Renato Thomsen
também são voluntários neste novo restauro.
O
técnico em Segurança do Trabalho Dionas Fontoura, da HDCO, também acompanha o
trabalho e oferece orientações para prevenção de acidentes.
Integrante
da equipe do Estúdio Sarasá (empresa paulista responsável pelo restauro do Château d´Eau
e também do prédio da União de Moços Católicos), José Carlos Batista Pereira, o Dedé, esteve em
Cachoeira do Sul para dar orientações sobre a remoção das peças sem danos à
alvenaria.
Giovani
Santos, ex-funcionário da família Schroeder, também participou ativamente da
remoção e transporte dos materiais retirados da edificação.
Altemir Lopes, contratado por Eduardo Schroeder, também colaborou nestas tarefas.
Todas as peças estão sendo medidas, fotografadas, catalogadas e armazenadas em local próximo à Estação de Ferreira, onde aguardarão o restauro.
No segundo dia de trabalho, 30 de agosto,
um dos obstáculos encontrados pelo grupo foi um enxame de abelhas próximo à
chaminé do prédio. Antes de retirar as telhas, foi preciso
afugentá-las com fumaça e utilizar roupa especial para garantir a segurança dos
profissionais que estavam retirando o material do telhado.
Na manhã de 31 de agosto, o
Comandante do 3º BECmb, Tenente Coronel Luís Augusto Alves Leal Ferreira,
acompanhado do Capitão Háteras e do Subtenente Guilherme vistoriou o trabalho realizado no prédio da Estação e
aproveitou para conhecer as duas pontes ferroviárias de pedra, existentes nas proximidades
e que deverão fazer parte da futura rota turística planejada pelo Movimento
pela Restauração da Estação da Ferreira.
Durante a parte da manhã do dia 31, um
grupo de alunos do Professor José Alcemar, da Escola Zilah da Gama Mór, visitou a
Estação da Ferreira numa atividade de educação patrimonial.
No dia 1º de setembro foram retiradas todas as madeiras do telhado do sobrado e a única esquadria remanescente, no andar superior que estava interditado. Resta agora transportar para o depósito algumas poucas peças de madeira danificadas, trabalho que será realizada na próxima semana.
Apresentação
de Projetos
para o restauro da Estação Ferroviária de Ferreira
Na tarde de 15 de
agosto de 2022, nove propostas de alunos de Projeto VI do Curso de Arquitetura e
Urbanismo da UFSM/Cachoeira do Sul, orientados pelas professoras Paula Olivo e
Andressa Rocha, foram apresentadas para o restauro da Estação
Ferroviária de Ferreira e a requalificação do entorno, propondo novos usos:
Grupo
01:
Ivan Soares De Almeida, Ygor Rodrigues Da Silva e Mariana Flores
Estação Cultural
Osni Schroeder
Grupo 02:
Daniel Farias Alves, Leonardo Borba Brum e Wellington Ravier Pfeiffer
Centro Multiuso Estação
Ferreira
Grupo 03:
Leticia Laureano Xavier de Moura, Luisa Schreiner Tonet, Julia Stochero Buriol
Parque da Estação
Grupo 04:
Pedro Henrique Taschetto Marin e Helena Torres da Trindade
Matryoshka Urbana
Grupo 05:
Bianca Da Silva Friedrich, Bruna Rodrigues Kiefer e Eduarda Perini Farias
Estação
da Cultura
Grupo
06:
Fernanda Marques Goncalves, Louise Da Silva Pinheiro e Patrícia Bertoldo
Stefanello
Estação Férrea da Ferreira
Grupo 7:
Henrique Soares, Gulitt Graffolin e Gustavo Januário
Estação Ferreira:
Empório e Parque Esportivo
Grupo
08:
Tailor Johann Bueno e Juliano Xavier Freitas
Parque Estação da Ferreira
Projeto individual:
Eduardo
Moreira
Requalificação da Estação da Ferreira
Participantes do evento:
A coordenadora do Curso de Arquitetura
e Urbanismo do campus UFSM/Cachoeira do Sul, Minéia Scherer e as professoras
Luciani Lens, Maria Luiza Zanatta de Souza e Barbara Giaccom prestigiaram a
apresentação dos acadêmicos.
A vice-prefeita Ângela Schumacher
Schuh, Eloisa Uliana, MárciaPatel e Rafael Rochembach estiveram representando a
Prefeitura Municipal de Cachoeira do Sul.
A Amicus foi representada por sua presidente, Dariely
Gonçalves.
José Pedro Schroeder, coordenador do
Movimento Pela Restauração da Estação Ferreira e seguintes membros participaram
do evento: Vera Schroeder, Lia Carolina Breyer Schlabitz, Elizabeth Thomsen e
Renato Thomsen.
A
repórter Lena Caetano e o cinegrafista Edson Michels, da TV Cachoeira NT SUL
documentaram o evento para o telejornal do dia seguinte, 16 de agosto.
O conhecimento do patrimônio, a
conscientização acerca do seu valor, relevância e necessidade de conservação, demonstram uma diligência em democratizar os saberes, reforçar a ideia, a percepção de
cidadania, estruturar identidades e elevar a autoestima do povo de uma cidade,
estado, país, nação. Já os centros históricos formam um patrimônio universal imprescindível,
cuja salvaguarda e inserção na vida coletiva são dever dos governos e dos
cidadãos, em razão dos valores que irradiam e por se tratarem de um dos
princípios da identidade de uma comunidade, hoje ameaçadas pela homogeneização
da civilização contemporânea. Os núcleos históricos podem, ainda, ser um lugar
de encontro, turismo, entretenimento, prática de esportes, contemplação,
intercâmbio, fomento da economia, geração de recursos e informação.
Esta importância que decorre da
memória, da história, da tradição, da cultura, da arquitetura, da época e do
tempo que estes patrimônios histórico-culturais carregam e traduzem, podem,
entretanto, ir muito além de sua conservação física, simbólica e imaterial. Sempre
que possível, eles também deverão atentar para a sua função social, para a
melhoria da qualidade de vida de quem habita nas suas adjacências, para a
adequação às necessidades presentes da comunidade em seu entorno e do município
em que estão inseridos para o fim de um cotidiano e de um futuro mais factível,
próspero, promissor.
Este é o espírito presente nos
projetos realizados pelos alunos do curso de Arquitetura da Universidade
Federal de Santa Maria - UFSM, campus Cachoeira do Sul, para o restauro da
Estação Ferroviária Ferreira, cuja apresentação dos trabalhos tivemos o
privilégio de assistir em duas ocasiões, a convite dos membros do Movimento pela Restauração da Estação Ferreira. O que nos enche de esperança. Esperança do verbo esperançar. Aquela que nos
faz agir, buscar. Que move, transforma.
Melhora, soma, agrega, prospera, evolui sem, todavia, nos esquecermos do
passado que nos trouxe até aqui.